Relação das madeiras de Cachoeira, Bahia, Brasil. 1790 | Arquivo Histórico Ultramarino
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13 de Setembro de 2017

Relação das madeiras de Cachoeira, Bahia, Brasil. 1790

Est. 23, Pau Ferro

Pau Ferro resistente à térmita. O AHU associa-se com este documento às Jornadas Europeias do Património a celebrar de 22 a 24 de setembro de 2017 sob o lema Património e Natureza.

“Árvore esta de cor escura, semelhante ao ferro (…) Madeira muito compacta, sólida, e infinitamente resistente ao cupim, e ao tempo, que por esta razão é preferido para obras de grande duração. Cresce a sua cauli ascendente com algumas inclinações à altura de oitenta, e noventa palmos com o diâmetro de dois, e três palmos, composta de uma casca [p. 36] fibrosa, e nimiamente porosa de cor ferruginosa escura, e de ramos divergentes, e alternos com folhas petiolatas, carinatas, semelhantes à Carina das Papilonáceas de cor verde claro, (…): as suas raízes fibrosas (…) se estendem em grande longitude pela terra adentros com diversas direcções. Nasce nos terrenos silistosos (?), e arenatos (…) e dele se podem tirar tábuas de dois palmos de largo com vários comprimentos, ainda que mais frequentemente o aplicam os Naturais em esteios, vigas, Pontaletes, e Barrotes (…): na construção naval pode-se aplicar com grande utilidade dos navios e embarcações de alto bordo, não só em quilhas, vigas, cinetas, carlinga, cavernas mas ainda em tábuas, e Pranchões para a mesma coberta, e costado. A experiência tem mostrado que este Pau enterrado e posto ao tempo, dura muitos anos sem a mínima deterioração das suas partículas, e do mesmo modo metido dentro de água.”

Esta estampa faz parte da “Relaçam das madeiras descriptas, que se comprehendem no termo da Villa de Caxoeira” 1790. De Joaquim de Amorim Castro. 92 fólios. 338 x 230 x 20 mm. Livro manuscrito a tinta negra sobre papel. Ilustrações aguareladas. Encadernação em seda vermelha. Quatro guardas decoradas. AHU_ICONm_005_E, D. 33-78

Dedicado à rainha D. Maria I e para ela enviado, provavelmente em anexo a um ofício, juntamente com amostras das madeiras descritas, cuja localização é desconhecida. Castro descreve 46 tipos de madeiras tropicais de áreas em torno da Vila de Cachoeira, São Salvador da Bahia, identificando as suas potencialidades naturais, os usos pelas populações locais e o contributo para o desenvolvimento económico do Reino de Portugal.

No final do texto o autor apresenta uma tabela contendo informações relativas a amostras de diferentes pesos e tamanhos, a densidade e o comportamento mecânico face a testes de tensão. As madeiras encontram-se descritas pelos nomes vulgarmente utilizados pelos locais (como Giquitibans, Ginipapo e Arariba), excetuando quatro árvores que empregam denominações conhecidas na Europa, como a Amoreira, o Espinheiro, o Cedro, o Bálsamo e o Louro. Castro refere as diligências no sentido de se evitarem cortes não criteriosos (“indiscretos”) e os fogos que destruíam ou diminuíam consideravelmente o valor das matas, bem como o que fazer para a exploração de novas madeiras.

Relaçam das madeiras, folha de rosto

Joaquim de Amorim Castro integrou as expedições científicas luso-brasileiras do final do séc. XVIII, dinamizadas pelo poder político, em articulação com a Real Academia das Ciências de Lisboa da qual era sócio correspondente e que lhe publicou a “Memória sobre a Cochonilha no Brasil” e “Memória sobre o Malvaisco da Villa de Caxoeira no Brasil”

Este manuscrito tem sido consultado mas ainda não foi publicado. Encontra-se referido por exemplo em  Cybèle Celestino de Santiago, “Some remarks on wood experiments carried out in Brazil in the 18th century” In Historical Constructions. Guimarães: 2001, 831-836 e foi objecto de estudo e intervenção no AHU em 2006 por Ana Freitas no âmbito da Licenciatura em Conservação e Restauro da UNL, or. por Conceição Casanova e co-or. por Ana Canas que transcreveu o texto. Desse estudo resultou o artigo de Ana Freitas et al., “Study of a Portuguese 18th century manuscript: Relaçam das madeiras descriptas, que se comprehendem no termo da villa de Caxoeira” In Sources and Serendipity: testimonies of artists’ practice: proceedings of the third symposium of the Art Technological Source Research Working Group. London, Archetype Books: 2009, 155-158.

 

Esta notícia foi publicada em 13 de Setembro de 2017 e foi arquivada em: Documento em Destaque.